Onde se encontram histórias pouco sérias ocorridas (a sério!) nos tribunais. Este blog viveu, entre Dezembro de 2004 e Janeiro de 2006, das contribuições de quem o leu.

28.2.05

Verdade e rigor!

A comunicação social ao serviço da lei e da justiça.
Com verdade e rigor, mesmo que isso implique exercícios de humildade.
No interesse dos utentes (não necessariamente dos utentes da Justiça).

Este recorte vem de um número publicado no Outono de 2004 de um jornal semanal de uma cidade do interior norte.
Posted by Hello

25.2.05

Dos comentários.

Neste comentário ao "Ordem no Tribunal!", que pode ver-se aqui, Eduardo Montenegro conta uma história interessante demais para ficar ali escondida.
Transcreve-se, tal como o autor a escreveu.

"Não resisto contar um caso que aconteceu ao meu irmão, que é oficial de justiça do MP.
Um dia chega lá um sujeito e diz ao meu irmão que queria falar com o Tomás.
O meu irmão supreende-se, pois dos sete ou oito funcionários que lá andam - e que por sinal são todos grandes compinchas - nenhum deles tinha tal nome ou apelido.
Advertido, o dito senhor insiste que seria com o Tomás pois era assim que o outro senhor lá do Tribunal (da secção cível) havia dito.
Depois uma troca de informações lá se concluí que o dito senhor era "contumaz" (ele percebeu que era com-o-Tomás).
Galhofa geral.
Coitado do homem."

22.2.05

Excelentíssimo Senhor Doutor

O estilo epistolar policial é muito rígido e formal. Está ainda muito marcado por um tempo em que a reverência era mais importante que a substância e em que os tribunais eram instituições onde pontificavam semi-deuses a quem, como aos antigos lamas tibetanos, não podia olhar-se directamente nos olhos. Este estilo rebuscado tem, frequentemente, dificuldades em abordar com eficácia os problemas concretos que tem em vista solucionar.

Numa certa comarca rural, um determinado organismo policial pretendia cumprir as formalidades legais relacionadas com a apreensão de uma pistola referenciada num concreto processo criminal. Pretendeu por isso saber do estado do processo, junto do tribunal. Escreveu um ofício, no qual com “todo o respeito, solicitava que fosse informado se o processo em causa já estava na fase de julgamento e, em caso afirmativo, solicitava que aquele tribunal se dignasse informar o que se lhe oferecesse acerca do assunto, ou seja, o destino dado à pistola nele apreendida” (sic).

17.2.05

Si non é vero...

Este chiste foi ouvido da boca do Hon. Judge Peter Messitte, Magistrado norte americano, num debate ocorrido na Faculdade de Direito da Universidade Católica, a propósito da morosidade da justiça.
Chegou aqui remetido por EL PBX.

Em França, tudo é permitido, excepto o que é proibido.

Na Alemanha, tudo é proibido, excepto o que é proibido.

Na Rússia, tudo é proibido, mesmo o que é permitido.

Em Itália, tudo é permitido, especialmente o que é proibido.

15.2.05

Ainda o rigor policial.

Nesta outra história policial estava em causa uma troca de tabefes entre dois líderes locais de dois partidos políticos, em noite de eleições autárquicas. O líder do partido perdedor apresentou queixa do outro por ofensas à integridade física. Tudo acabou de uma forma politicamente satisfatória. De uma comarca rural do Minho, um esclarecedor relatório numa investigação policial.

"Pelos elementos trazidos aos autos, não se compreende na realidade o que se passou, visto que houve gente ouvida no processo que não falou a verdade. Há duas testemunhas a dizer que o agressor andava num golf branco e, pelo menos uma, afirmou que era o Engenheiro XXX (que tem um golf branco). Apareceram outras pessoas de boa situação social (advogado, professora, empregado bancário, capitão do exército na reserva e actualmente chefe de movimento da Rodoviária) entre outros também conceituados no meio a dizerem o contrário. Isto é, disseram que estavam naquele momento com o arguido. Assim sendo, Engenheiro XXX é só um e não poderia estar em ambos os locais à mesma hora."

11.2.05

Nem tudo são rosas.

As instituições judiciárias são frequentemente a última estação de casos pessoais com perfil irresolúvel. Tal como as estações anteriores, não estão preparadas para lidar com eles. Veja-se este trecho de uma queixa, apresentada no Ministério Público.

Senhor Magistrado do Ministério Público na Comarca de ZZZZZZ

F…, residente em L…, casada com três filhos menores e antes de dar em maluca, vem expor o seguinte.

Crente na justiça e nos caminhos que a ela conduzem, ando há quinze anos tentando resolver um problema herdado de meu pai e que só se passa por ele ter morrido vítima de uma acidente. Meus tios, tudo têm feito para me prejudicar, usando de má fé, em conivência quer com as Finanças, quer com a Conservatória do Registo Predial. E como se isso não bastasse, recorri a um advogado que me andou a enganar durante onze anos, porque sempre afirmou estar o assunto quase resolvido, para depois tudo negar. E com a Ordem dos Advogados, ando há três anos a tentar saber alguma coisa da queixa que apresentei e nada deixam transparecer. Como tudo isto me pareceu bastante estranho, recorro aos préstimos de um outro advogado que se comprometeu a resolver os problemas. Mas também este mais não fez do que completar a obra que o outro fez. Assim, decepcionada, recorro aos serviços de um outro advogado, que para meu azar venho a descobrir ser amigo do outro.

(…)

8.2.05

O caso das melancias

Do arquivo de Os Cordoeiros veio uma sentença real (assinada e confirmada pelo próprio à blogosfera) do Meritíssimo Juiz Rafael Gonçalves de Paula, em funções na 3ª Vara Criminal da Comarca de Palmas, Brasil.

"DECISÃO
Trata-se de auto de prisão em flagrante de Saul Rodrigues Rocha e Hagamenon Rodrigues Rocha, que foram detidos em virtude do suposto furto de duas (2) melancias.
Instado a se manifestar, o Sr. Promotor de Justiça opinou pela manutenção dos indiciados na prisão.
Para conceder a liberdade aos indiciados, eu poderia invocar inúmeros fundamentos: os ensinamentos de Jesus Cristo, Buda e Ghandi, o Direito Natural, o princípio da insignificância ou bagatela, o princípio da intervenção mínima, os princípios do chamado Direito Alternativo, o furto famélico, a injustiça da prisão de um lavrador e de um auxiliar de serviços gerais em contraposição à liberdade dos engravatados que sonegam milhões dos cofres públicos, o risco de se colocar os indiciados na Universidade do Crime (o sistema penitenciário nacional)...
Poderia sustentar que duas melancias não enriquecem nem empobrecem ninguém.
Poderia aproveitar para fazer um discurso contra a situação econômica brasileira, que mantém 95% da população sobrevivendo com o mínimo necessário.
Poderia brandir minha ira contra os neo-liberais, o consenso de Washington, a cartilha demagógica da esquerda, a utopia do socialismo, a colonização europeia...
Poderia dizer que George Bush joga bilhões de dólares em bombas na cabeça dos iraquianos, enquanto bilhões de seres humanos passam fome pela Terra - e aí, cadê a Justiça nesse mundo?
Poderia mesmo admitir minha mediocridade por não saber argumentar diante de tamanha obviedade.
Tantas são as possibilidades que ousarei agir em total desprezo às normas técnicas: não vou apontar nenhum desses fundamentos como razão de decidir.
Simplesmente mandarei soltar os indiciados.
Quem quiser que escolha o motivo.
Expeçam-se os alvarás. Intimem-se.
Palmas - Tocantins, 5 de Setembro de 2003.
Rafael Gonçalves de Paula
Juiz de Direito"

7.2.05

Espírito Latino.

Muitos dos cidadãos das antigas colónias africanas portuguesas sentem-se meio-portugueses. Com razão, aliás. E com razão, também, muitos de nós os consideramos como se fossem compatriotas nascidos noutras latitudes. Iguais, na diversidade.

A propósito, veja-se a história de um espírito latino em http://rprecision.blogspot.com/.

4.2.05

Como dizer?...

Mais abaixo fica a cópia, em mau estado, de um impresso de auto policial usado em acidentes de viação. Circulou pela Internet e foi reencaminhado por mão amiga. É suposto ser a reprodução fiel de um real auto de notícia, no qual se relata um acidente de viação efectivamente ocorrido.

Porque não está completamente legível, transcreve-se a parte referente à “descrição do acidente”.

"O acidente deve ter-se dado como passo a descrever: o veículo transitava na Estrada Nacional nº 124, no sentido Pereiro/Martinlongo, e ao chegar ao km 111,600, segundo afirmações do condutor, o mesmo afirmou que ao fazer uma lomba se deparou com o peão a defecar na sua faixa de rodagem tentando o mesmo ainda se levantar e vestir as calças, não tendo tempo para o fazer dando-se assim origem ao acidente. Do qual resultou danos materiais no veículo e ferimentos no peão".
"Ao peão não foi feito o teste de alcoolemia em virtude de o mesmo se ter recusado”.
Posted by Hello

2.2.05

"Um azul parolo"

Esta história verídica, ocorrida há meia dúzia de anos no distrito de Aveiro, foi remetida por um Meritíssimo Juiz de Círculo que no-la relatou na primeira pessoa.

Cena: Tribunal de xxx xxxx xx xxxxxxx, no Círculo de xxxxx xx xxxxxxx, julgamento de processo crime em Colectivo.
Actores: estou eu a presidir, os dois assessores, advogado de defesa, advogado da assistente e Ministério Público.

Julgava-se um arguido acusado de incendiar o automóvel da mulher, na noite em que esta saiu de casa. O julgamento estava a decorrer com normalidade, havendo uma certa tensão no ar: o arguido negara e a assistente depôs de forma angustiante. Começamos a ouvir um agente policial que fez a investigação inicial e concluiu ser o arguido o autor dos factos. E o diálogo foi mais ou menos este:

MºPº: -Mas como é que o senhor sabe que foi o arguido quem pôs fogo ao carro da mulher?
Agente: -Sabe, Senhor Procurador? Ele foi visto uns minutos antes de começar o fogo a passar perto da casa onde estava a mulher.
MºPº: -Mas quem é que o viu, como o reconheceram?
Agente: -Foram uns vizinhos. É que ele anda sempre com um carro que é único aqui na cidade e esse carro foi lá visto, parado alguns minutos, a essa hora.
MºPº: -Mas que tem esse carro de tão especial?
Agente: -Oh Sr. Dr., é uma carrinha Isusu, com uma cor estranha, que é única aqui por estes lados...
MºPº: -Como? Explique lá isso melhor.
Agente: -É um carro com uma cor que salta logo à vista, assim... como é que hei-de dizer?... de um "azul parolo"...
(começam-se a desenhar sorrisos nas caras dos presentes...)
E o Sr. Agente, olhando em volta da sala e apontando para o meu assessor do lado esquerdo, diz, triunfante:-Mais ou menos da cor da camisa daquele Sr. Dr. Juiz ali!
(tive de interromper o julgamento por 10 minutos, como é de calcular...)
A.